Xadalu (Dione Martins da Luz), 1985, Alegrete (RS).
Vive e trabalha em Porto Alegre.

Xadalu Tupã Jekupé é um artista indígena que usa elementos da serigrafia, pintura, fotografia e objetos para abordar em forma de arte urbana o tensionamento entre a cultura indígena e ocidental nas cidades.

Sua obra, resultado das vivências nas aldeias e das conversas com sábios em volta da fogueira, tornou-se um dos recursos mais potentes das artes visuais contra o apagamento da cultura indígena no Rio Grande do Sul.

O diálogo e a integração com a comunidade Guarani Mbyá permitiram ao artista o resgate e reconhecimento da própria ancestralidade. Nascido em Alegrete, Xadalu tem origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as margens do Rio Ibirapuitã.

As águas que banharam sua infância carregam a história de Guaranis Mbyá, Charruas, Minuanos, Jaros e Mbones — assim como dos bisavós e trisavós do artista. De etnia desconhecida, eles eram parte de um fragmento indígena que resistia em casas de barro e capim à beira do Ibirapuitã, dedicando-se à pesca e vivendo ao redor do fogo mesmo depois do extermínio das aldeias da região.

A revelação de seu nome espiritual guarani, Tupã Jukupé, em batismo Nhemongarai (ritual de nomeação), pelo centenário cacique Karai Tataendy Ocã, é parte da reconexão de Xadalu com sua ancestralidade indígena.

Como escreveu o cacique geral Mburuvixá Tenondé Cirilo Karai: "Xadalu Tupã Jekupé é guarani, pois ele sente e vive no mundo guarani e tem seu espírito guarani. Não é por acaso que isso aconteceu, ele é um ser especial, foi nosso Deus Nhanderu que mandou ele, pois existem guerreiros enviados pelos deuses para salvar o seu povo, e o nosso Deus mandou Xadalu para salvar a história do povo Guarani Mbya através da arte".

Nas palavras de Paulo Herkenhoff, "Xadalu não fica à espera por mudanças na sociedade, mas busca agenciar sua potência para agir na escala individual". O renomado curador também afirma que "a arte de Xadalu não vai mudar o mundo, mas pode alterar nosso olhar sobre as coisas".

Em 2020, sua obra "Atenção Área Indígena" foi transformada em bandeira e hasteada na cúpula do Museu de Arte do Rio. Meses depois, venceu o Prêmio Aliança Francesa com a obra "Invasão Colonial: Meu Corpo Nosso Território", que o levará a uma residência artística na França em 2021.

Exposições individuais

  • Yvatepynta “ Cèu Vermelho” / Fundação Iberê Camargo / Porto Alegre ,2022
  • Aetcha´i “visões de uma cosmovisão” |Centre Intermondes La Rochelle,França 2021
  • Cosmovisão | Museu Nacional de Belas Artes/ Rio de Janeiro, 2021
  • Área Indígena | Ação da Bandeira do MAR/ Museu Arte do Rio, 2020
  • Invasão Colonial Yvy Opata “A terra vai acabar” | MACRS / Porto Alegre,2020
  • Espaço, Arte e Resistência na Cultura Guarani | curadoria Luciano Migliaccio | FAU–USP, São Paulo/SP 2019
  • Fauna Guarani | Galeria Bolsa de Arte , Porto Alegre/Rs 2018
  • Tribalismo | Galeria Generation Berlin Mitte Hostel, Berlin/ Alemanha, 2017
  • Tribalismo | Galleria d´arte Puzzle, Firenze/ Itália, 2017
  • Elementos Urbanos | Centro cultural Erico Veríssimo, Porto Alegre/Rs, 2016
  • Aldeia dos Anjos | IAB - Porto Alegre/Rs, 2015
  • O Dilúvio | 13a Semana de Museus, MARGS, Porto Alegre- O Dilúvio / 13a Semana de Museus, MARGS, Porto Alegre, 2015
  • Xadalu - O Índio Universal / 72Ny Gallery, Porto Alegre/Rs 2014

Exposições coletivas

  • IMS convida | Instituto Moreira Salles/ São Paulo,SP 2020
  • A casa Carioca | Museu Arte do Rio/ Rio de Janeiro/ 2020
  • Exposição Die Macht der Vervielfältigung,Instituto Goethe | Leipziger Baumwollspinnerei / Leipzig, Alemanha,2019
  • O Poder da Multiplicação, Curadoria Gregor Jansen. Instituto Goethe, Margs, Porto Alegre, 2018
  • Salão Arte Pará | Curadoria Paulo Herkenhoff/ Museu UFPA, Belém/PA, 2018
  • RSXXI Experimental | Curadoria Paulo Herkenhoff, Santander Cultural , Porto Alegre, 2018
  • Projeto Arte no Muro Santander Cultural | Santander Cultural/ Porto Alegre,2015
  • Arte x Publicidade | MARGS, Porto Alegre , 2015
  • Dimensão Pública | Centro Cultural Erico Veríssimo, Porto Alegre, 2015
  • Vontade para tudo na vida | 20 anos do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, MACRS, 2014
  • Conexões Globais | Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre, 2013
  • Do Meio | Instituto de Artes Visuais do Rio Grande do Sul/IEA VI, Porto Alegre 2012
  • Expo Colex | Festival Mundial de Arte - Santos/SP, 2012
  • Metropolitanos | MACRS
  • Arte e Memória [Art and Memory] / Fórum Social Mundial Temático, Memorial do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012

Palestras e oficinas

  • Palestra Xadalu movimento Urbano | Santander Cultural, Porto Alegre/Rs 2017
  • Vozes Contra o Racismo, curadoria Helio Menezes/ 2020, São Paulo,SP
  • WEeb Serie Oficina Arte urbana e impressões em papel Fibra Lab Xadalu | CMPC Brasil/ Porto Alegre, 2020
  • Palestra Onhemongu´e “ A arte entre aldeia, periferia e Museu”| Fauusp Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo/ São Paulo, 2020
  • Oficina de contos Indígenas para crianças Xadalu e Ara poty | Sesc RS/ Porto Alegre, RS, 2020
  • Palestra Xadalu e Cacique Cirilo Karai “Karai Retã o tempo parou” Fundação Ibere Camargo/ Rio Grande do Sul/ RS , 2020
  • Projeto Arte em Diálogo com Xadalu | Museu Nacional de Belas Artes/ Rio de Janeiro, 2020
  • Podcast Rodas de escuta Xadalu e Carlos Vergara | Sesc Rio , Rio de Janeiro , 2020
  • Curso Mediação Cultural no Sesc | Espaços Educativo-Culturais, cidade e ocupação/Sesc Rio, Rio de Janeiro - RJ, 2020
  • Palestra História e mito: os povos Huni-Kuin e Guarani |IEA-USP |Cátedra Olavo Setúbal, São Paulo ,2019
  • Palestra Raça e Artes Visuais em Terra Brasil | Bienal Mercosul/ RS 2019
  • Mediação no Encontro Nacional Sesc Artes visuais/ Aldeia Pindó Mirim/ Porto Alegre,RS
  • Palestra Resistência na Cultura Guarani| FAU – USP, São Paulo/SP 2019
  • Palestra Xadalu movimento Urbano | Santander Cultural, Porto Alegre/Rs 2017
  • Palestra Xadalu movimento Urbano | Universidade Sorbonne, Paris/França 2017
  • Ministrante curso extensão Serigrafia | UCS- Caxias Do Sul,RS 2016
  • Palestra Xadalu Elementos Urbanos- UCS - Caxias do Sul RS - 2016
  • Oficina de Sticker Art | Justiça Federal - RS / FASE - 2015
  • Palestra “Movimento Urbano”, IMED, Passo Fundo-RS, 2015
  • Oficina de Arte Urbana | Atelier Livre, Porto Alegre-RS, 2015
  • Oficina de Serigrafia | Festival Macondo Circus, Santa Maria-RS – 2014

Residências Artisticas

  • 2021 Pesquisador-artista da Plataforma de Antropologia e Respostas Indígenas à COVID-19 (PARI-c) projeto sediado na Universidade de Londres, com bolsa da agência de Pesquisa e Inovação do Reino Unido (UKR)
  • 2021 Centre Intermondes /La Rochelle/ França
  • 2019/2020 Aldeia Guyra ́i Tapu/ Paraty. RJ, Brasil
  • 2019 Atelier Carlos Vergara/ Rio de janeiro, RJ, Brasil
  • 2019 Fundação Iberê Camargo / Porto Alegre/RS, Brasil
  • 2019 Aldeia Yjere / Porto Alegre / Rs, Brasil
  • 2019 Aldeia Anhetengua / Porto Alegre/RS, Brasil
  • 2018 Aldeia Pindo Mirim/ Itapuã , RS Brasil
  • 2017 Aldeia Pindo Poty Missiones, Argentina
  • 2016 Aldeia Tamandua/ Missiones, Argentina
  • 2015 Aldeia Koenju/ São miguel Das missões/Rs, Brasil
  • 2014 Aldeia Pindo Poty/ Porto Alegre/Rs, Brasil

Prêmios

  • Prêmio Aliança Francesa 1º lugar/ 2020
  • Prêmio Salão Anapolino (artista selecionado) 2020
  • Prêmio Fundação Iberê Camargo 2019
  • Prêmio Açorianos de Artes Plásticas | Artista Revelação, 2019
  • Prêmio Facrs Artes Visuais| Projeto Fauna Guarani,2016
  • Indicado para o Prêmio Açorianos Artes Plásticas,2016
  • Indicado para o Prêmio Açorianos Artes Plásticas,2015
  • Prêmio Humanidades 2014 | Instituto Brasileiro da Pessoa Homenagem pela defesa da causa indígena aliada às questões sócio culturais deste tempo.
  • Melhor Artista | Expo Colex Mostra Internacional de Sticker Art – Santos/SP, 2012

Filmes

  • Xadalu e o jaguaretê | Documentário, 80 min. Direção Tiago Bortolini. Zeppelin Filmes,2019
    - Prêmios : Melhor filme Longa Metragem Júri Popular Festival Internacional Amazônia Doc/ 2020
    - Menção Honrosa do Júri Festival Internacional Amazônia Doc/ 2020
  • Sticker Conection | Documentário, 19min. Direção Tiago Bortolini. Zeppelin Filmes,2014.

Livros

  • “xadalu movimento urbano”
    Prêmio Fac, Jorner Produções. 2016

Obras em acervo

  • Coleção Frances Reynolds
  • Coleção Paulo Sartori
  • Sesc Nacional
  • Fundação Iberê Camargo
  • Fundação Biblioteca Nacional Rio de Janeiro
  • MAR – Museu Arte Rio
  • MACRS – Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul
  • MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli
  • Memorial da Justiça Federal-RS

Xadalu e guaranis: diagramas de alteridade e trocas.
Paulo Herkenhoff

A situação das sociedades originais das Américas é a evidência fragorosa do fracasso do processo colonial. Em 500 anos de invasão, os povos autóctones conheceram a rapsódia invertida de um épico perverso onde ocorreram genocídios, escravização, guerras simbólicas, proselitismo de religiões cristãs, doenças novas, fome, extinção e dizimação, imperialismo linguístico, degradação cultural, diásporas, destruição do ambiente, usurpação de terras e outras riquezas, roubo de saberes, sob muita violência difusa. “Como essa história do contato entre os brancos e os povos antigos daqui desta parte do planeta tem se dado?”, indaga Ailton Krenak em seu blog. A arte de Xadalu não vai mudar o mundo, mas pode alterar nosso olhar sobre as coisas . Ao abraçar a causa dos guaranis, ele conforma um ethos para sua arte de agenciamento social.

Seu nome é Dione Martins. Xadalu vem de Shadaloo, do desenho Street Fighter. Na infância, ele e um amigo imaginaram criar a empresa Xadalu. Nas primeiras intervenções nas ruas, ele colocou o nome Xadalu no indiozinho que colava pelas paredes - passou a ser chamado de Xadalu, por ser um street fighter, um guerreiro das ruas como gari e artista.

Embora seja trineto de guaranis por conta de Adalva, sua triavó materna, Xadalu não reivindica a identidade guarani. Por puro pudor, alega não falar guarani e considera a língua um fator constitutivo da identidade cultural. No Amapá, Pituku Waiãpi fazia perguntas na língua waiãpi como parte do processo de pintar seus quadros - “aí eles me respondem em waiãpi, onde é para pintar, o que falta.” Xadalu se tem por mestiço, pois sua mãe Maria Catarina Martins da Luz é negra; daí não ousar falar em nome dos guaranis, mas, através de sua arte reivindicar a visibilidade da etnia. Após entender sua própria identidade, formou a identificação irmanada com os guaranis. Diz ele, “minha vó Dalva [Dalva Oliveira da Luz] era um fragmento indígena que ainda resistia vivendo na beira do rio, morava numa casa de barro e capim, vivia da pesca.” A fala de Xadalu é moldada pela linhagem feminina. “Elas me mostraram o quanto as fortalezas podem ser vulneráveis e ao mesmo tempo inquebrantáveis, pois tudo vai depender da circunstância e do ponto de vista em que a vida nos coloca,” afirma. Xadalu compôs o êxodo rural e superou a condição de lumpen, mas não é um artista do miserabilismo. A partir da vivência, ele proclama o “matriarcado de Pindorama”, que Oswald de Andrade consagrou no Manifesto Antropófago (1928). Em Alegrete, onde nasceu em 1985, nunca havia pensado nos guaranis “já que não existe aldeia ao redor de Alegrete, foram todas exterminadas, mas sabemos que depois da guerra guaranítica houve refugiados guaranis que foram morar na beira do rio Ibirapuã.”

Em 1996, dona Maria e dona Dalva, avó e mãe de Xadalu, tomaram uma decisão em 1996. “Viemos tentar uma nova vida em Porto Alegre e por falta de emprego e péssimas condições financeiras fomos parar num periferia, a Vila do Funil,” informa ele . Até 1999, ele e sua mãe juntavam latinhas para sobrevivência. Depois, foi gari. Em 2003, Xadalu criou uma oficina de serigrafia na Vila do Funil. A mãe e a avó sempre estimularam Dione a estudar malgrado a vida precária. Lembrando-se da Serigrafia Gaúcha, seu primeiro emprego, diz que “nem imaginava o que viria, só sabia que lá eles pagavam almoço e passagem.”

Numa virada de ano, o street fighter Xadalu colou quase 10.000 adesivos pela cidade. É um caso raro de uma artista mestiço que retoma questões estratégicas de sua integração numa metrópole. Rege-se por uma intencionalidade precisa: tornar os guaranis visíveis. “Em pouco tempo já estava íntimo das ruas e mal sabia que nunca mais iria conseguir viver sem elas. Essa mistura de periferia com asfalto (ruas) tornou empírico meu DNA marginal. Tanto a periferia quanto a rua, sinto elas como a extensão do meu corpo, fazem parte de mim.” Hoje Xadalu tem um círculo de amigos como Toniolo, o mais antigo pixador do Brasil, e colabora com Smok e Dick da grife Maiorais.

Xadalu trata de deslocamentos territoriais, de sua saída do interior para a capital até o reconhecimento da diáspora dos guaranis. Sua metáfora, os primeiros trabalhos na rua enquanto catador de latinhas e gari, num percurso dos desterrados. Xadalu produz uma obra que quanto mais dispersada, mais eficiente é sua comunicação. Ele conheceu o extremo da margem – “as vassouradas nas ruas de Porto Alegre, no primeiro emprego como gari, me mostraram um mundo de preconceito, desigual e desleal, mas tudo isso foi bom para fortalecer meu aprendizado.” A utopia tem a substância do humanismo no projeto de Xadalu. O humanismo, por sua inatualidade, possibilita-lhe convocar o conceito em face da radicalidade de situações brutais do “inumano no humano”, nos termos da análise de Emmanuel Levinas de Humanisme de l’autre homme.

No oposto do guarani italianizado de Il Guarany de Carlos Gomes, Xadalu age por contaminações culturais do homem nativo concreto, numa interculturalidade atravessada por trocas e resistência à violência. Ele sabe que a diáspora guarani foi e é imensa. “O Ibirapuitã, rio que banhava minha cidade,” conta Xadalu, “desemboca no Ibicuí que desemboca no rio Uruguai (rio onde teve muitos conflitos de guerras e extermínios indígenas; até hoje causa incômodo aos guaranis pois é uma fronteira onde eles tem que pedir para passar para ver seus parentes que moram na argentina).”

Disseram que meu bicho pode ser o Jaguaretê (onça), diz Xadalu. Toda onça é, portanto, um autorretrato. Seus guaches exploram temperaturas quentes sob a harmonização estridente das cores como acontece com pinturas de alguns artistas amazônicos como diversos os Ashaninkas e os Huni Kuin na região do Acre e Carmezia Emiliano entre os Macuxis em Roraima. Os bichos de Xadalu têm um desenho sinuoso, próximo de certa cultura gráfica Pop articulado aos animais na madeira ?? dos guaranis. Tudo nele remete a uma visão periférica da cultura visual - a rua, o subúrbio, as aldeias guaranis.

A situação dos territórios guaranis demarcados gera penúria por sua diminutez e dificuldades de sobrevivência digna. A presença de guaranis nos espaços públicos de Porto Alegre é alvo de hostilidades de alguns comerciantes que acham que “os índios estragam o ambiente”. Xadalu produziu um cartaz por volta de 2005 com a inscrição ÁREA INDÍGENA, em verde e amarelo. Houve uma enorme reação. Os guaranis se regozijaram e entenderam que era um espaço para seu artesanato; os comerciantes sentiram-se ameaçados. Um cacique pediu a Xadalu que espalhasse pelo centro. Numa noite, Xadalu colou 1000 deles!. ÁREA INDÍGENA é um dispositivo anti-desterritoriação. “No dia em que não houver lugar para o índio no mundo, não haverá para ninguém,” diz Ailton Krenak. Xadalu reivindica o reconhecimento das terras guaranis, a reterritorialização das aldeias e o reconhecimento simbólico da Tekoha .

Para entender Xadalu examine-se a etimologia do termo solidariedade - do latim solidus, inteiro, consistente. Nele, solidariedade é a responsabilidade recíproca num meio social, de pessoas que criam relações de trocas simbólicas e sob vínculos estéticos e éticos, remuneradas de modo justo. Não é salário, mas colaboração. A esta arte chamo de diagramas de sociabilidade.

Cura e equilíbrio estavam na arte terapia de Nise da Silveira e Osório Cesar. Lygia Clark dissolveu a arte num modelo terapêutico como a “estruturação do self” no espaço pré-verbal.

Escuta Alguns artistas abrem espaços de escuta para segmentos da sociedade: Dias & Riedweg com menores de rua, Walda Marques com vendedoras de cheiro do Pará, Rosana Palazyan (No lugar do Outro), Rivane Neuenschwander e Xadalu. O vídeo Ymá Nhandehetama (Antigamente fomos muitos) de Armando Queiroz é um colóquio sobre as situação das populações autóctones hoje com Almires Martins Guarani, que defendeu uma tese no Pará sobre direito indígena guarani.

Dar voz. Estratégia de Vídeo nas aldeias do antropólogo Vincent Carelli que propicia meios tecnológicos para a ação simbólica aos indivíduos.

O artista provedor não suga a mais valia simbólica e material do da experiência de vida do Outro, mas oferece produção de renda: Geraldo de Barros, Celeida Tostes, Alexandre Sequeira, Bené Fonteles, Eduardo Frota e Igor Vidor.

Tornar visível. Hélio Oiticica, Lygia Pape, Cildo Meireles, Sebastião Salgado e Paulo Nazareth trazem a luz dramas da existência. Xadalu produziu retratos de cinco crianças, mulheres e homens guaranis que portam uma pequena escultura do animal com que se identificam: Esses Seres invisíveis, são retratos-emblemas de subjetividades, como a de Daniel Ortega que porta uma coruja, que ombreiam com a série Marcados para viver de Claudia Andujar dos Ianomamis. Porque os trabalhadores guaranis passam por impercebíveis nas ruas de Porto Alegre, Xadalu impremir seus retratos sobre chapas de raio X, em forma de negatoscópio.

Advogar pela causa das sociedades autóctones. Nos anos 60, expande-se a consciência do genocídio dos povos da floresta praticado impunemente pela expansão territorial do capitalismo sobre seus territórios durante a ditadura de 64. As grandes forças de denúncia foram os antropólogos e indianistas, as universidades, a imprensa (foto-jornalistas, como Claudia Andujar junto aos Ianomâmis), a Igreja Católica, e os artistas (Cildo Meireles e Claudia Andujar).

Contra a mais valia simbólica Um processo de agenciamento do capital simbólico coletivo. Paula Trope (Meninos do Morrinho) é exemplo da solução equânime para o problema da mais valia simbólica.

Muitos artistas contemporâneos não extraem a mais valia simbólica e material do discurso calcado da experiência de vida do Outro. Ao contrário, incorporam a colaboração autoral, praticam a escuta social e provêem algum retorno ou remuneração. Xadalu substituiu a alienação pela constituição do Outro em sujeito moral e econômico, individual ou coletivamente. Entre os diagramas de alteridade de Xadalu estão:

Cursos profissionalizantes. Ensino de serigrafia nas aldeias Tekoa Koenju, Tekoa Pindó Mirim e Tamanduá para jovens usarem a figura do índiozinho Xadalu na edição de camisetas para venda.

Banheiro. Não havia banheiro em Pindo Poty, a aldeia mais pobre de Porto Alegre, em diálogo com o cacique, Xadalu constrói um.

Reflorestamento. Preza, marca de armações de óculos, criou um modelo com seu indiozinho. Xadalu usou seus honorários em Pindo Poty. Como lá não há artesanato porque a mata foi devastada, ele propôs o plantio de Kurupy para produzir madeira para os artesãos no futuro (cerca de 300 mudas). “O alinhamento com as aldeias do Rio Grande do Sul foi inevitável,” revela um Xadalu luminoso, “me sinto como o jabuti, o mensageiro que leva e traz a informação.”

Xadalu não fica à espera por mudanças na sociedade, mas busca agenciar sua potência para agir na escala individual - não se move por impotência; reconhece a pequena medida de suas possibilidades, sem submergir à onipotência. Seus riscos e dúvidas movem sua pulsão de vida no contexto de um contrato social solidário da arte.

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  • Porto Alegre, Rio Grande do Sul